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O Criosfera 1 é um laboratório remoto instalado em um deserto gelado na Antártida, a quase 2,5 mil quilômetros da Estação Comandante Ferraz.
Ele foi criado para medir e monitorar informações do ambiente, como o impacto do derretimento do gelo e a elevação do nível do mar na costa brasileira, os micro-organismos capazes de viver em condições extremamente hostis e o papel dos ciclones no espalhamento de fungos, algas e outros materiais de um continente para o outro.
O laboratório é coordenado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), com apoio do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs).
O Criosfera 1 tem 6,3 metros de comprimento, 2,6 m de largura e 2,5 m de altura e um peso total de 3,5 toneladas. Nos meses de verão, a energia é captada a partir de placas solares. No inverno, turbinas eólicas garantem o funcionamento de todos os aparelhos.
O geofísico Heitor Evangelista, professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e coordenador científico do Criosfera 1, destaca que a escolha do local para instalar o laboratório não foi aleatória.
Ele afirma que o setor oeste da Antártida é uma das regiões mais sensíveis do planeta para as mudanças climáticas e apresentou a maior taxa de aumento da temperatura nos últimos 50 anos.
O manto de gelo que recobre esse território está sob "alto estresse climático", e os dados mostram um aumento do fluxo de gelo dessas regiões em direção ao oceano.
É possível identificar fraturas no gelo e o surgimento de icebergs, que desembocam no mar, contribuindo para a elevação do nível das águas marítimas. Isso interessa diretamente ao Brasil, que tem uma linha de costa com mais de 7 mil km ininterruptos e será um dos dez territórios mais afetados pela elevação do nível do mar.
Além disso, o país possui diversos ecossistemas de alta relevância que ficam na costa, como é o caso dos manguezais.
Por isso, a elevação do nível do mar não afeta apenas o bem-estar social e econômico, mas também impacta diretamente a biodiversidade das zonas costeiras. Evangelista argumenta que esses motivos são mais que suficientes para que o Brasil seja "protagonista no monitoramento do que está acontecendo no nosso quintal".
A respeito dos micróbios resistentes encontrados na Antártida e seu potencial para gerar biotecnologias, há diversas pesquisas e estudos em andamento.
Por exemplo, um artigo publicado na revista Nature em 2021 destacou a descoberta de uma nova espécie de bactéria resistente a antibióticos no gelo da Antártida, que pode ser útil no desenvolvimento de novos tratamentos médicos.
Além disso, um estudo publicado na revista Science Advances em 2019 mostrou que micróbios antárticos podem produzir enzimas capazes de degradar plásticos, o que pode ser uma importante contribuição para o combate à poluição por plástico no meio ambiente.
Sobre a disseminação de fungos, vírus, bactérias e plantas por meio de ciclones e rajadas de vento, essa é uma área de pesquisa em crescimento.
Um estudo publicado na revista Global Change Biology em 2021 mostrou que os ciclones extratropicais que atingem a Antártida podem transportar grandes quantidades de poeira e micróbios para a região, o que pode ter implicações significativas para a ecologia antártica e para a saúde humana.
Outro estudo publicado na revista Science of the Total Environment em 2020 mostrou que as rajadas de vento são responsáveis pelo transporte de poluentes atmosféricos para a Antártida, o que pode afetar a qualidade do ar e a saúde dos ecossistemas locais.